A Editora Peirópolis lança, este mês, a HQ A mão e a luva, adaptada com rara sensibilidade, pelo roteirista Alex Mir e o desenhista Alex Genaro, fãs da obra de autoria de Machado de Assis, que utilizam os vastos recursos dos quadrinhos para transpor o enredo. A adaptação foi dividida em dezenove capítulos que recriam a estrutura da obra original e uma apurada recriação visual do Rio de Janeiro no período do Brasil Império, elementos que trazem à vida de maneira inédita um dos livros mais apaixonantes da literatura brasileira.

Alex Mir conta que conheceu Machado de Assis justamente com A mão e a luva, que leu durante o Ginásio. A história me marcou muito na época. Quando pensei em adaptar uma obra, logo pensei em Machado de Assis e, consequentemente, A mão e a luva. Não queria adaptar um livro que já havia sido adaptado em algum momento para os quadrinhos, por isso, o fato da obra nunca ter sido adaptada também pesou muito na hora da escolha, explica.

O texto de Machado de Assis é bem detalhado, o que ajuda na caracterização de personagens e cenários, mas faz com que boa parte desse texto fique de fora. Como diz o ditado, uma imagem vale por mil palavras. É bem assim mesmo. Por vezes, em uma página de HQ estão duas ou três do livro original. Cabe ao roteirista decidir o que na HQ será representado por desenhos e o que será representado por diálogos, afirma Mir. Segundo ele, a adaptação para os quadrinhos é uma forma de aumentar a procura por esse tipo de leitura e até mesmo aproximar os jovens de obras clássicas. A leitura de uma HQ é mais dinâmica e interessante, afirma.

A composição da obra levou dois anos de trabalho conjunto de Alex Mir e Alex Genaro.
Quando Alex Mir me convidou para quadrinizar a obra, a minha primeira reação foi de receio. Resolvi ler a obra antes de me decidir. Meu primeiro contato com A mão e a luva foi este, tardio, admito, mas não consigo imaginar um melhor momento para ter ocorrido. Ao iniciar a leitura, fui fisgado por aquele universo e pela figura de Guiomar, completa Genaro.

A mão e a luva foi publicado originalmente em capítulos diários, em 1874, no então popular formato de folhetim, precursores das novelas de rádio e televisão, pelo jornal O Globo. Influenciado pelo movimento romântico da literatura, A mão e a luva traz um estilo um tanto diferente daquele que marcaria a obra de Machado de Assis. A obra também se destaca pelo sarcasmo e a apresentação de personagens femininas complexas e bem delineadas.

Afilhada órfã de uma rica baronesa, a astuta e decidida Guiomar, de 17 anos, é disputada por três pretendentes que, a rigor, não parecem merecedores de uma personagem tão forte quanto ela. A tônica da trama é a ambição e o desejo de ascensão social no rigoroso estatuto social burguês da época.

O enredo cheio de meandros e reviravoltas conquista com facilidade o leitor, que desejará saber quem será o escolhido de Guiomar, aquele que lhe cabe na mão como luva. Em meio a uma batalha de palavras, intrigas, sentimentos e ressentimentos, também tem papel importante a ardilosa governanta inglesa Mrs. Oswald, que tenta influenciar o desfecho da história e os destinos de todos.

Sobre os autores e ilustrador:

Machado de Assis (1839 – 1908) nasceu no Rio de Janeiro ainda no período da escravidão. Filho de mãe escrava, é considerado, pelo crítico literário Harold Bloom, um verdadeiro milagre das letras brasileiras. Até alcançar o respeito de seus pares, Machado trabalhou como tipógrafo e, mais tarde, como revisor. Em 1873, entrou para o Ministério da Agricultura, onde trabalhou até a aposentadoria, poucos anos antes da sua morte. Cultivou quase todos os gêneros literários, destacando-se como ficcionista. Alguns de seus romances mais conhecidos, como A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878) foram lançados inicialmente no formato de folhetim. Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), também surgido como folhetim, é considerado o marco inicial do realismo brasileiro. Sua obra mais conhecida é Dom Casmurro.

Alex Mir nasceu em São Bernardo do Campo, São Paulo. É escritor, roteirista e editor. Seus primeiros trabalhos foram os independentes Defensores da pátria e Tempestade cerebral, onde atuou como editor e roteirista. Entre outros trabalhos nos quadrinhos, é responsável pelo roteiro dos álbuns O mistério da mula sem cabeça e Orixás – do Orum ao Ayê. Este último integra a lista do PNBE 2013. É vencedor do Prêmio HQMix 2010 como roteirista revelação. Como escritor, tem contos publicados em livros como Asgard: A saga dos nove reinos, Tratado secreto de magia, Moedas para o barqueiro, O Grimoire dos vampiros e Histórias liliputianas. Vive em Mauá, São Paulo, com esposa e filha.

Alex Genaro nasceu no Rio de Janeiro. É ilustrador dos livros de RPG Maytréia e Rebelião – ascensão e queda (editora Daemon) junto com seus suplementos, e colaborador das revistas Coquetel da Ediouro Publicações. Já teve trabalhos publicados em revistas independentes como Escribas do inferno, Impacto, Tempestade cerebral e Lorde Kramus. Participou, junto com Alex Mir, da coletânea Imaginários HQ, lançada pela editora Draco. Gosta de desenhar enquanto ouve músicas sem letra e curte filmes de terror B.